No alto do monte
olhando a seus pés 
o lindo percurso das águas
que o belo e majestoso douro
incentiva para que beijem o mar,
pensa-se em tudo
se é que de tudo
é possível pensar.
E até porque se quer
ou porque não,
em nada se pensa
se é que em nada
é possível pensar.
E o rio lá está,
com as suas águas
essas que não param
como também não pára 
o desassossego dum coração
que se encontra lá no fundo
de um outro rio
que jorra ondas de tristeza
porque algo se foi
e que era tão e somente
uma parte do sorrir
do amanhecer alegre
do caminhar feliz
do viver feliz
e agora não está mais ali.
Mas é ali
que, com o coração lá no fundo
se procura uma esperança
uma certeza de que tudo
tem a sua hora
a sua razão de ser.
Mas é ali
que se quer ficar
que se quer adormecer
e não mais acordar.
E só mesmo a mansidão
de palavras que surgem como o vento
de alguém que nos quer na alegria,
é que poderão ir ao fundo desse rio
e dizer a um coração
que se encontra destroçado,
quiçá até talvez afogado
nas águas tristes do momento,
que na próxima visita
ao alto do monte
as tempestades já terão amansado
e no rio de águas puras
aparecerá uma mensagem a dizer
que nesta vida tudo se transforma
e se, o que desaparece nos faz chorar
é unicamente porque foi bom
e é esse bom 
que o pensamento vai guardar
para que de novo 
seja feliz.

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